Primeiras Palavras
Coletivo Libertário de Apoio aos Coletivos Ameríndios
“quando lhes foi explicada a sociedade proposta através do anarquismo, ou seja, uma sociedade cooperativa, autodeterminada e sem hierarquia, a resposta dos anciões foi ‘mas isso é ser índio’ ” Pensamentos Anarquistas sobre a Terra Indígena
A cada palmo de terra – dos rincões esquecidos à crosta cinza dos centros das cidades deste continente – jazem escondidos os vestígios de incontáveis genocídios coloniais. O poder civilizado que distorce e apaga as histórias, busca matar a memória destes incontáveis povos que já não existem mais. Jovens mortos, aldeias destruídas, mulheres violadas e crianças seqüestradas: as atrocidades cometidas contra os ameríndios não aparecem na história oficial dos estados nacionais e de suas frentes coloniais.
Aos povos sobreviventes das políticas coloniais de genocídio – menos de 10% da população anterior à invasão européia – incidem agora outras táticas de extermínio: Práticas integracionistas e progressistas que buscam acabar com a diferença, encobertas pela hipocrisia dos discursos multiculturais institucionais.
Através da força institucionalizada o poder colonial nega a experiência direta e as palavras dos velhos a beira do fogo e impõe a escola como direito, deslegitima a medicina tradicional e implementa políticas médicas higienizantes, destrói a tradição alimentar das matas em favor dos transgênicos e outros alimentos nocivos a saúde levando a todos a doença e a morte.
As ações do estado não deixam espaço para dúvidas: busca solapar os povos originários de seus territórios ancestrais em troca de assistencialismo de má qualidade. Integrá-los à sociedade na parte de baixo da pirâmide, na qualidade de pobres trabalhadores e desempregados nacionais, com disposição a aceitar passivamente a exploração do capital e os impostos do estado.
Para além de noções vagas de “sujeitos de direito” ou de “cidadãos”, e afastando-se das lógicas coloniais que há 500 anos arrasam com esta terra, entendemos que os povos indígenas não pertencem aos estados nacionais, mas povos autônomos, portadores de tradições milenares em harmonia duradora relação com a terra.
O Coletivo Libertário de Apoio aos Povos Ameríndios surge como iniciativa de solidariedade aos povos indígenas enfrentando às práticas coloniais. Inspirados pelos ideais anarquistas, e a despeito de nossas limitações, nos somamos à luta dos povos remanescentes pela dignidade selvagem e pela liberdade irrestrita, contra a destruição da terra pelo capital e o agronegócio.
Uma de nossas metas é a difusão de informação a respeito das lutas ameríndias sob a ótica libertária, apoiando com solidariedade a retomada de suas terras, outra meta é incentivar a ação mediante a informação fazendo frente ao constante apagamento perpetrado pela mídia corporativa às lutas dos povos originários.