Olhares da CLAPA sobre o V Encontro dos Kujã no Morro do Osso.

No Morro do Osso (POA-RS) – territórios cativos do estado brasileiro – no 21 e 22 de Novembro, aconteceu o 5° Encontro dos Kujã, (reunindo xamãs, parteirxs, sábixs, silenciosxs ou faladorxs, curiosxs e apoiadorxs) organizado pela força de articulação dos Kaingang.

Estiveram reunidos junto na aldeia Tupeng Pö, (TI Morro do Osso), parentes de 18 terras kaingang. Em sua quinta edição o encontro mostrou a potência desperta dos kujã com narrativas e práticas ancestrais kaingang voltadas para a saúde, o fortalecimento e a luta, num contexto de reivindicações dos povos nativos por direitos existenciais e liberdades originárias.

Em muitos pronunciamentos os líderes e oradores manifestaram tristeza com a morte do sábio corajoso, Augusto Opë da Silva em Iraí (RS), indignação com assassinato do jovem guerreiro Davi Limeira de Oliveira, professor bilingue em Vicente Dultra (RS), ódio ao cerco policial de mais de trezentos homens (militares e federais com helicópteros, cães e cavalos, e ainda aplicações forçadas de políticas biométricas) contra a pequena comunidade kaingang de Kandoia (RS).

Em muitas falas, duras críticas à civilização branca (fög kupri), este sistema de monocultura que castiga e hierarquiza a diferença para explorá-la. Os fög, disse um sábio com suas próprias palavras, nos fazem armadilhas, para aprisionar modos distintos de ser em relações de dependência e escassez. Nas falas dos mais sábios se reconheceu a aversão e consciência em relação ao modo de vida civilizado, enquanto máquina desumana que disfarça com ilusões e mentiras sua nocividade à toda vida.

Foi relembrada pelos kaingang da TI Rio dos Índios a inação da FUNAI e de outras instituições que realizaram discursos bonitos enquanto nas terras indígenas acontecem intervenções colonialistas militares territoriais. Contra esta dominação branca e a violência colonialista secular os jovens dançaram furiosamente e se reafirmaram como kaingang, em meio a uma sociedade etnocêntrica que em geral se afirma como descendente de europeus, e despreza as tradições ameríndias, empurrando os índios para esteriótipos de falta e inferioridade.

Os grupos presentes dançaram também de alegria pelo encontro de parentes e afins, pelo bom encontro entre aqueles que se complementam e caminham juntos.

Conhecimentos ancestrais sobre remédios da mata e alimentação kaingang foram partilhados com que esteve no encontro. E no pátio da aldeia, as margens da mata, rituais dos kujã com fumaças e banhos de ervas foram organizados, para fortalecer e auxiliar a todxs em suas caminhadas.

No topo do Morro do Osso, de pé, dançaram e oraram, os sábios kujã, ao lado dos kaingang que lutando pela Terra, lutam pelos seus!


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