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À memória de Augusto Opë da Silva e de Francisco Rokág dos Santos

No dia 31 de maio de 2014, Augusto Ope morreu aos 58 anos. No dia 17 de agosto de 2015 se foi também Francisco Rokág aos 53.

Ambos morreram com pouco mais de um ano de diferença, ambos se foram por conta do câncer, esta maldita doença que se alastra como epidemia pela civilização.

Em 1985 Augusto se envolveu na luta pela retomada da terra kaingang de Iraí, que então estava na mão de colonos ali assentados por décadas, pelas políticas antiindígenas do estado brasileiro. Francisco também lutou desde cedo e a luta o levou caminhar para reaver as terras roubadas de seus ancestrais em Porto Alegre, São Leopoldo ou Lageado, e outros lugares.

Augusto e Francisco lutaram com sabedoria, relembrando a história de seu povo e repassando seu conhecimento para os mais jovens. Nenhum dos dois se deixaram abater quando o câncer, a doença dos fög tomou seus corpos. Seguiram lutando enquanto tiveram forças.

Tanto Augusto quanto Francisco são lembrados por seus amigos, yambré e rengré pela sabedoria tranquila e palavras fortes. Ambos lembravam de um tempo de seus ancestrais, quando a terra era fértil e havia abundância, lhes dava todo o necessário para uma boa vida.

Augusto foi um grande promotor da saúde entre seu povo. Denunciou em vida formas do genocídio a que os Kaingangs estão submetido, os remédios dos fög que fazem as pessoas adoecerem, e a comida dos civilizados, que ao invés de nutrir, enfraquecem e podem matar.

Seu Chico, foi um sábio e grande gaiteiro que conhecia a vida na mata, um líder de seu povo. Sua morte também se deu por conta do descaso racista com que são corriqueiramente tratados indígenas pelo sistema de saúde estatal do Brasil. Francisco Rokag recebeu um diagnóstico de tuberculose errado, e seguiu tratando essa doença por anos, enquanto era um câncer que o consumia.

Augusto Ope e Chico Rokág estão mortos, ainda assim suas pegadas seguirão vivas, chamando e levando outras gerações à luta.

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Território ancestral guarani, Parque de Itapuã no município de Viamão será entregue a iniciativa privada pelo governo do Estado

4150920194_006f65867b (1)O governo do estado do Rio Grande do Sul – através da política Anna Pelinni, principal da Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – encaminhou a proposta de concessão do Parque Estadual de Itapuã à iniciativa privada.

Privatizado através da modalidade de concessão o Parque será explorado economicamente através do turismo pelas próximas duas décadas com possibilidade de renovação do contrato de concessão.

Fundado em 1973, o Parque de Itapuã foi estabelecido sobre território ancestral guarani contra a vontade deste povo, território ancestral reinvidicado há mais de trinta anos pelos guarani. Como comprovado cientificamente através de laudos antropológicos, e pela presença de sítios arqueológicos antigos em Itapuã, a região do Parque foi permanentemente habitada por centenas de anos pelos guarani. Presença esta, demonstrada, em jornais da década de 1970.

A concessão do Parque de Itapuã à iniciativa privada demonstra o total descaso que é característico de qualquer órgão do estado para com as demandas indígenas e a luta pela devolução das terras. Além de implicar em novos danos ambientais a fauna e flora de Itapuã,
revela-se mais uma dificuldade para que os guarani voltem a ter acesso a este território.

aldeia-de-itapuã-3Mais uma iniciativa etnocida estatal, desta vez por parte do governo de Estado que por meio de corrupção, e para beneficiar alguns de seus comparças obscuros entre os empresários, provavelmente está enchendo os bolsões nos verdadeiros leilões que são essas concessões.
O governo federal, por sua vez, lava as mãos frente as responsabilidades que assumiu no intuito de conquistar os ingenuos votos dos cidadãos brasileiros.

Neste canto do mundo, entre entre o pampa, a serra e o oceano, a secretária do meio ambiente do governo, fantoche das forças de ocupação do capital, trabalha como facilitadora do desmatamento. A FUNAI (fundação do índio) é facilitadora de tocaias e prisões de indigenas. O governo do PMDB ( partido do movimento democratico brasileiro) não passa de um boneco nas mãos do movimento empresarial e capitalista de exploração e destruição do que ha de autentico por aqui, assim como o PT é um fantoche do capital corporativo (nacional e internacional) em favor do genocidio dos povos indigenas.


26 Kaingang de Kandóia serão indiciados pela morte dos dois pistoleiros no Sul ocupado pelo estado brasileiro

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No dia 21 de maio de 2015, foi noticiado que 26 Kaingang da Terra Kaingang de Kandóia, no município de Faxinalzinho (noroeste do Rio Grande do Sul), serão indiciados dentro de um prazo de mais ou menos duas semanas pela morte de dois pistoleiros. Estes tem sido tratados como vítimas e agricultores pela mídia burguesa no intuito de criminalzar os indígenas em luta pela terra.

 

Com o objetivo de desmobilizar e ameaçar a comunidade kaingang de Kandóia que bloqueava uma rodovia, estes dois pistoleiros sequestraram um adolecente kaingang no dia 28 de abril do ano passado. Em uma ação de autodefesa, os kaingangs resgataram o adolecente do controle dos pistoleiros que, após dispararem uma das armas, acabaram sendo linchados.

 

Legitimada pela mídia, na noite de 17 de novembro de 2014, uma mega operação policial foi efetivada contra a comunidade kaingang de Kandóia. Com mais de 270 policiais federais e estaduais, a operação rendeu toda comunisade aterrorizando as famílias que ali viviam, apontado armas para crianças e coletando material genético dos adultos com o argumento de encontrar “provas” contra os responsáveis pela execução dos “agricultores.

 

Incidente em Kandóia

 

Anteriormente, no dia 9 de maio de 2014, sete das lideranças de Kandóia foram detidas apos serem convocados para uma suposta reunião de “conciliação” no centro cultural de Faxinalizinho. A reunião de fato nada tinha de conciliatória, se mostrou uma armadilha montada por diferentes esferas policiais com o aval da FUNAI para capturar estas lideranças.

 

[RS] Força e Solidariedade com os Kaingang presos acusados da morte de dois fazendeiros.

 

Tentando fazer passar ao encarceramento dos Kaingang como um ato de justiça, desvinculado da sua luta pela terra é mais uma estratégia do Estado ruralista para legitimar suas ações terroristas. Além de criar castigos exemplificadores, o aparato repressor colonial tem como meta remover os Kaingang de Faxinalzinho, garantindo no município a supremacia dos colonos brancos sobre os territórios ancestrais kaingang.

 

No entanto, ao contrário do esperado, a repressão parecem fortalecer as convicções dos kaingang em luta. No momento da sua prisão as lideranças de Kandóia mostraram-se firmeza e dignidade diante das políticas do terror do Estado. Também a comunidade de Kandoia resistiu e enfrententou com força as repercussões do encarceramento das cinco pessoas no seio da aldeia e nos arredores onde foram perseguidos continuamente, por policiais e pistoleiros colonos.

 

Frente as manipulações da mídia e aos enganos do Estado ruralista, não se pode ficar de braços cruzados. É de suma importância que estejamos alertas e preparados para denunciar e enfrentar esta nova onda de repressão em Kandóia.

 

Nosso desejo de força e vitória à comunidade de Kandóia em luta!


Davi Limeira de Oliveira, Kaingang de 22 anos foi assassinado em Vicente Dutra.

Por Bernardo Jardim Ribeiro

Segundo informações repassadas por lideranças indígenas, o professor Davi participava de um evento festivo no município de Vicente Dutra na noite de sexta-feira, 07, de novembro. Por volta de 1h da manhã ocorreu uma pequena confusão entre alguns participantes. Davi foi envolvido e acabou sendo esfaqueado pelas costas. Teve os pulmões perfurados e veio a falecer quase que instantaneamente. (info do CIMI).

Esta claro que esse “acontecimento” não é casualidade. Segundo as informações das lideranças kaingang, a pessoa que assassinou Davi foi mandada e paga por “outra pessoa”. Como tentativa de desarticulação de uma luta pela terra e de amedrontamento, matando para ameaçar, escondendo os motivos do assassinato trás de “incidentes”, os políticos e pistoleiros, políticos pistoleiros do interior estão usando os mesmos velhos métodos colonialistas para acabar com intuitos de rebeldia. Davi era um professor bilíngue, ensinava aos kaingang a falar e escrever na sua própria língua, o que, por muito surreal que pareça, representa um perigo para os mecanismos de controle do estado.

Porém, frente a isso, os kaingang seguem firmes. O único que o governo consegue através desse tipo de pratica etnocida é a perda da sua credibilidade e “confiança” que se esforçaram em inculcar nos povos indígenas através de tantos anos de assistencialismo, paternalismo, patrocinado por uma política bienestarista, buscando tornando os indígenas, “cidadãos” cada vez mais dependentes do Estado.

Como dizem os guerreiros kaingang: “Nos, Kaingang, não temos medo de morrer, temos medo de ser esquecidos”. Difundido o assassinato de Davi, pretendemos não deixar que ele seja esquecido. Apelamos à solidariedade com o povo Kaingang com todas as formas possíveis…

Força aos guerreiros kaingang de Rio Dos Indios! Estamos juntxs!


Incidente em Kandóia

Sobre a violência policial no cerco aos kaingang de Kandóia

PF2Em 17 de Novembro de 2014, a aldeia kaingang de Kandóia – formada por cerca de 200 pessoas, muitas delas, crianças – foi invadida por um efetivo de guerra do estado brasileiro. Um verdadeiro cerco militar e federal foi armado contra esta comunidade em uma operação que recebeu o seu nome.

Esta operação foi relatada por outros kaingang como uma ação de provocação. Este exemplo de terrorismo estatal contra populações indígenas teve também como meta abalar a luta kaingang pela retomada de suas terras na região.

A ação colonial mobilizou setenta viaturas, helicópteros e caminhões de bombeiro. As tropas formadas de 20 policiais federais, 280 homens do Batalhão de Operações Especiais (BOE), armados e acompanhados de cães e de cavalos foram assistidas por autoridades locais, entre elas o “senhor” Carlos Eduardo Raddatz Cruz, atual procurador da república do município de Erechim.

operacaoKandoiaPoliciais e peritos invadiram as casas á 6 da manha e coletaram a força amostras de sangue e saliva de vários membros da comunidade. Todos os homens e adolescentes foram fichados e fotografados sem qualquer mandato. Uma das metas da operação pareceu ser a de coletar evidências contra os supostos executores dos pistoleiros.

Em 27 de abril deste mesmo ano, dois pistoleiros que haviam seqüestrado uma criança kaingang foram mortos na ação de libertação promovida pelos indígenas. A grande mídia não reportou nada sobre este sequestro, e transformou em “produtores” seus noticiários esses dois bandidos. Com a finalidade de criminalizar os indígenas e garantir a adesão dos pequenos proprietários da região.

A máquina colonial e etnocida do estado policial brasileiro age abertamente pelo extermínio das populações indígenas em luta pela sobrevivência, na defesa dos interesses dos fazendeiros monocultores. As políticas de terror perpetradas em Kandóia demonstram o desprezo do poder pelos procedimentos legais com que são tratados populações indígenas cujos direitos originários pre-existem ao surgimento deste e de qualquer outro estado.

Não ficaremos caladxs diante desta ação criminosa a serviço do poder! Kandóia está viva e faz parte da luta kaingang por um futuro digno para suas crianças. Os kaingang de Kandóia pedem a todxs que se mobilizem, que não os deixem ser massacradxs, que não fechem os olhos diante desta enorme injustiça!

Enquanto o estado brasileiro persegue e ameaça os kaingang por defender formas de viver e se relacionar com a terra, a nossa solidariedade se faz necessária, sua luta não será esquecida!


[Iraí, RS] Confronto entre Kaingang e BM acaba com Kaingang baleados e sequestro de gambés…

Retirado de Cumplicidade:

Ficamos sabendo pela imprensa corporativa que esse sábado em Iraí (RS), dois jovens indígenas kaingang foram baleado por policiais em um confronto em uma barreira de transito da BM na avenida Flores da Cunha. Os gambés quiseram levar o carro dos kaingang por ter impostos atrasados e eles ao se negarem a se submeter ao controle policial, entraram em confrontos, nos quais dois indígenas ficaram baleados e encaminhados pelo hospital da caridade em Erechim. Segundo a mídia corporativa, eles estariam fora de perigo.

Em resposta à violência policial, uma parte da comunidade de Iraí se rebelou e vários foram até o posto policial onde sequestraram a dois gambés e uma viatura da BM. Os gambés foram liberados pelos kaingang após umas horas na comunidade, ainda a viatura e o seu conteúdo esta na comunidade.

Um inquérito da policia civil será instaurado segunda-feira com um prazo de 40 dias para as investigações e as pessoas envolvidas teriam que responder por sequestro, cárcere privado e roubo.

Desde aqui, mandamos muita força para a comunidade de Iraí que terá que se enfrentar aos mecanismos mais sinistros de controle e perseguição usados pelo Estado para abafar os gritos de revolta contra a autoridade.

Força e Saúde axs kaingang em luta!

 


Em memória do Guerreiro Augusto Opë Kaingang

Disse Augusto Ope da Silva que compreendeu importância da luta ancestral pela terra em 1983. Augusto foi um importante líder kaingang dos nossos tempos. Num tempo em que muitas lideranças cooptadas pelo aparato colonial prejudicam seu povo, Augusto, pelo contrário é lembrado por seus Yambré e Kangré por sua sabedoria tranquila e suas palavras fortes.

Lembrava-nos Augusto que antes da invasão europeia os territórios de seu povo se estendia do sul do atual estado de São Paulo até o Rio Grande do Sul. Dizia-nos que a terra era fértil, havia caça e pesca em abundância, e que o meio em que viviam lhes dava tudo necessário para uma boa vida. Após cinco séculos de invasão dos fög os territórios kaingang foram reduzidos a retalhos, refúgios e fundões. O processo de colonização que exterminou 98% das populações indígenas, no entanto, não conseguiu acabar com os kaingang – cortou-se os galhos, ficaram as raízes – que voltaram a crescer em número e se organizarem entre si.

Em 1985 Augusto se envolveu na luta pela retomada da terra kaingang de Iraí, que então estava na mão de colonos ali assentados por décadas, pelas políticas antiindígenas do estado brasileiro. Após iludir as populações indígenas com promessas e truques legais como a lei de terras que criou marcos e divisas das terras indígenas para o confinamento, o estado brasileiro decidiu assentar colonos nas terras kaingang em uma espécie de reforma agrária dentro destas terras, fazendo com que em 1962, muitas populações acabassem em desgraça.

Após um período de articulação, cansados das armadilhas estatais, os Kaingang  “sobreviventes do massacre feito no passado” partiram para a ação direta, expulsaram os colonos das terras usurpada de seus ancestrais, refutando a política etnocida que transformava seus territórios em pequenos aldeamentos.

Augusto foi um guerreiro dessa conjuntura, deste período de retomada pelas terras, quando a malha de mentiras do estado dos brancos já não escondia mais as injustiças que criava. Augusto lutou com sabedoria, relembrando a história de seu povo e repassando seu conhecimento para os mais jovens. Como raramente acontece Augusto foi reconhecido em vida: jovens kaingangs lhe prestaram homenagem dando seu nome à uma escola indígena no município de Santa Maria.

Augusto Ope não traiu seu povo, não foi líder pacificador e conciliador a serviço dos interesses dos fög, foi o avesso disso.Não teve medo de dizer o que precisava ser dito, nem teve receio de chamar seus parentes para a guerra pelo futuro das gerações, mesmo que isso levasse a morte. Antes a morte que a falta de dignidade. Disse uma vez diante das tropas de choque mobilizadas contra seu povo na cidade de Porto Alegre,  “Os Kaingang não tem medo de morrer, os Kaingang têm medo de ser esquecidos.”

Sempre apoiou o conhecimento e as práticas dos xamãs kaingang, nunca esquecendo a importância dos kujã na criação de um povo forte contra as doenças impostas pela sociedade industrial dos fög. Participou dos Encontros dos Kujã e nunca hierarquizou o conhecimento kaingang colocando-o abaixo dos saberes biomédicos, reconhecendo sua importância milenar.

Não se deixou abater quando o câncer, a doença dos fög tomou seu corpo. Seguiu lutando enquanto teve forças. Denunciou os remédios dos brancos que adoecem, a comida dos brancos que ao invés de nutrir, enfraquecem e podem matar.

Como ninguém é pedra para durar para sempre Augusto Ope se foi aos 58 anos. Faleceu no dia 31 de maio de 2014 em decorrência do câncer. Ainda assim sua memória segue viva e atuante entre os kaingang que a relembram em seus encontros. Suas palavras serão lembradas pelas gerações que virão.

https://www.youtube.com/watch?v=9bAOtuk_Ml0


[RS] Força e Solidariedade com os Kaingang presos acusados da morte de dois fazendeiros.

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Retirado de Cumplicidade:

O mundo deles (os brancos) é quadrado, eles moram em casas que parecem caixas, trabalham dentro de outras caixas, e para irem de uma caixa à outra, entram em caixas que andam. Eles veem tudo separado, porque são o Povo das Caixas….”
(frase de um pajé do povo Kaingang)

Se você já assistiu alguns filmes de velho oeste não vai se surpreender com os recentes acontecimentos no interior do estado do Rio Grande do Sul. A luta pela terra alcançou um cenário de guerra na qual o governo assumiu claramente a sua posição de inimigo dos indígenas. Não que a sua posição não fosse essa mesma anteriormente, mas pelo menos a escondia atrás de discursos hipócritas como o do “multiculturalismo” que foi fomentado por uma série de leis e decretos “pró índio” que nunca foram respeitados, como é o caso da constituição federal de 1988.

Na noite de 27 de abril, alguns Kaingang que moram na terra indígena Passo Grande do Rio Forquilha localizado em Sananduva (RS) ocuparam o salão paroquial da capela de Bom Conselho e parte de uma área, onde residem alguns agricultores. Anunciaram que não sairão mais de sua terra ancestral. Ao mesmo tempo, indígenas Kaingang residentes na terra indígena Kandóia, localizada no município de Faxinalzinho, bloquearam estradas que cortam suas terras com o intuito de exigir a demarcação das suas terras. O conflito em Sananduva e em muitas partes do RS ocupadas pelos colonos tem uma larga historia. Mais recentemente, no dia 30 de agosto, em Porto Alegre, os kaingang mostraram o seu desconforto com as políticas publicas e a hipocrisia do governo, se rebelaram com pedras, lanças e flechas em frente ao palácio Piratini, onde um policial foi mandado para hospital assim como uma dezena de crianças indígenas e 4 dos seus mais velhos. Alguns dias depois, numa reunião que teve lugar no ministério publico federal, os kaingang prometeram aos governantes a intranquilidade dos seus sonhos. “Vocês nos fizeram sonhar, agora os nossos sonhos vão virar os seus piores pesadelos”, um grito lançado do sangue no olho de um de eles. E ainda no ano passado em fins de Novembro, alguns kaingang entraram nas terras do ex-prefeito de Vicente Dutra com a vontade de retomar suas terras, onde um carro policial foi atingido por pedradas e a casa do guardião do balneário foi queimada, mandando ele pelo hospital. (verhttp://cumplicidade.noblogs.org/?p=712).

Segundo o relato do CIMI(http://cimi.org.br/site/pt-br/index.php?system=news&action=read&id=7509 e http://cimi.org.br/site/pt-br/index.php?system=news&action=read&id=7518), durante o protesto dos Kaingang em Faxinalzinho aconteceu um conflito envolvendo os indígenas que bloqueavam uma das estradas e um grupo de agricultores, que pretendiam afastar à força os indígenas e liberar a via. Numa tentativa de romper com o bloqueio, segundo relato de alguns Kaingang, um menino foi levado como refém por dois homens que estavam num caminhão carregado de ração. Na perseguição, para resgatar o menino, houve um confronto e os dois ocupantes do caminhão acabaram mortos.

Na sexta passada, dia 9 de maio, sete Kaingang foram presos pela Polícia Federal, numa emboscada, enquanto participavam de “reunião” promovida por representantes do Governo do Rio Grande do Sul e pela Fundação Nacional do Índio (Funai) no município de Faxinalzinho. Por agora, soubemos o nome de somente cinco, entre eles se encontram Deoclides de Paula, Daniel Rodrigues Forte, Nelson Reko de Oliveira, Celinho de Oliveira e Delmiro de Paula. Foram levados de noite a Porto Alegre e ficaram recolhidos na carceragem da superintendência da Polícia Federal até por volta das 11 horas deste sábado(10/05). A Polícia Federal transferiu os sete indígenas, no final da manhã deste sábado, para o presídio de Jacuí, em Charqueadas no interior do RS após os mesmos terem recebido visita de advogado da Frente Nacional Quilombola e de missionário do Cimi.

Enquanto isso, os milicos invadiram a cidade de Vicentre Dutra (onde ocorreu o conflito em novembro passado).

A respeito das mortes dos fazendeiros, não vamos chorá-las, foram anunciadas faz muito tempo, e está claro que as estratégias do Estado para conter a paz social já não servem, há meses alguns kaingang prometeram ao governo que iam se encarregar eles mesmos de demarcar as suas terras já que não podiam contar com o governo para isso… Por um lado, nos enche o coração de força vivenciar esses momentos, sentir como, com tantos anos e estratégias retorcidas de colonização constante, algumas pessoas ainda encontram maneiras de enfrentar e desafiar a posição de dominado na qual foram colocados tanto pelos que pretendem apaziguá-los como pelos que pretendem “ajudá-los” . Por outro lado, as estratégias coloniais do Estado de tomar presos os kaingang tendo-lhes armado uma emboscada somente reforça a nossa convicção que a única maneira de viver livre se encontra fora do alcance do Estado. Pois, além de uma guerra econômica, os indígenas estão enfrentando também uma guerra ideológica, na qual o governo tem avançado em vários pontos com estratégias e pantalhas de “integração” do índio na “sociedade nacional”, conceitos que se reduzem a velhos processos de assimilação do outro com a finalidade de acabar com a diferença. É assim que, devolver as terras para os indígenas significaria também permitir que recuperem maneiras autônomas de viver e se relacionar, sem a necessidade do Estado. O que o Estado quer, com os indígenas, com os negros, com os pobres e com todos nós é que fiquemos a sua mercê, dependendo das migalhas que nos oferece e que assim esqueçamos que nós mesmos somos capazes de construir nossas vidas com nossas próprias mãos. As ofensivas de alguns kaingang nos últimos meses são atos de rebeldia frente a essas formas de colonização e a prisão é uma consequência, já que a sua função é manter a “ordem social” trancando qualquer ímpeto de liberdade.

A guerra contra o Estado e o agronegócio está declarada e não é de hoje, saudamos os ímpetos de liberdade dos kaingang em luta e solidarizamos com os kaingang presos e os que assumem uma posição guerreira. Que o terror invada as cidades, as fazendas, e que os sonhos de todos os destruidores da terra sejam perturbados, invadidos pela força raivosa de quem não abaixa a cabeça e se mantém firme em guerra!

Tocam a um, tocam a todos!